Trabalhar com acolhimento é lidar diretamente com a essência humana, suas feridas e sua capacidade de recomeçar. No abrigo onde estou inserido, o dia a dia com os adolescentes me desafia a ser mais empático, resiliente e humano. Esse ambiente me ensina que acolher vai muito além de oferecer um teto ou uma refeição. Acolher é abraçar histórias que, muitas vezes, carregam marcas de abandono, rejeição e sofrimento.
A complexidade do acolhimento reside exatamente nessa multiplicidade de histórias. Cada adolescente que chega traz consigo uma bagagem única, feita de traumas, esperanças e sonhos. E é nesse terreno tão delicado que encontramos a oportunidade de plantar sementes de transformação.
O mais desafiador é compreender que nem sempre a mudança é rápida ou visível. Alguns dias são feitos de pequenos avanços, outros de retrocessos. Mas, acima de tudo, o acolhimento exige paciência, pois, para muitos deles, confiar em alguém é um processo longo e doloroso.
Como fazer a diferença? Para mim, o ponto de partida é a escuta. Ouvir com atenção e sem julgamentos cria um espaço seguro, onde eles podem ser autênticos. Além disso, é essencial demonstrar consistência. Um simples “bom dia” todos os dias, um sorriso sincero ou a preocupação com detalhes do cotidiano, como o desempenho na escola ou um problema de saúde, mostram que eles são importantes e dignos de cuidado.
Outro fator indispensável é ajudá-los a enxergar o próprio valor. Muitos desses jovens cresceram ouvindo que não eram suficientes, e parte do nosso papel é ser uma voz que contradiz essas mentiras, afirmando que eles têm um futuro promissor e que não estão sozinhos em sua caminhada.
Ao mesmo tempo, o acolhimento também exige de nós, cuidadores, coragem para estabelecer limites. Amor sem disciplina pode gerar confusão, enquanto disciplina sem amor pode se tornar opressão. É no equilíbrio entre esses dois extremos que criamos um ambiente de crescimento saudável.
Todos os dias, quando vejo a expressão de esperança no olhar de um adolescente ou percebo pequenos gestos de gratidão, sinto que vale a pena cada esforço. Fazer a diferença na vida desses jovens não é uma tarefa fácil, mas é uma das experiências mais transformadoras que já vivi.
Afinal, acolher não é apenas ajudar os outros a reconstruírem suas vidas. É também permitir que essas histórias nos reconstrua. Porque, ao acolher, somos acolhidos pela graça de fazer parte de algo maior: a chance de mudar um destino.