É maluco como a maioria das pessoas evitam falar sobre a morte ou, quando o fazem, conduzem o assunto de uma forma que incentive a gente a superar isso o mais rápido possível, como se aquilo fosse um problema que precisasse ser resolvido com a mesma agilidade de um problema corporativo.
O amor que eu nutri por minha sobrinha desde o dia que soube que ela viria ao mundo é o tipo de sentimento que não sei explicar.
Esse meu sentimento é intensidade e extensão não podem ser comparadas com as de qualquer outro.
Por isso, o luto costuma ser muito mais complexo e difícil de superar.
Muitas vezes o sofrimento é tão intenso que pode levar a problemas emocionais graves e prolongados, como a depressão.
Neste sentido, a linha que divide o que é o luto normal de um comportamento depressivo é bastante tênue.
Meu comportamento ficou deprimido após a perda dela, mas não há uma linha clara entre o que possa ser considerado um quadro depressivo e um estado deprimido.
Não há receita para aliviar a dor, mas certamente a negação daquela morte e a culpabilizaçao pelo que poderia ter feito para evitar aquilo são fatores que intensificam o processo de luto .
Qual é a maior dor que uma pessoa pode sentir?
É possível se recuperar após a perda de uma pessoinha que não saiu de dentro de você, mas seu amor por ela não tinha explicação.
Como encontrar um novo sentido para a vida e ir a luta?
Quem perde os pais é órfão, quem perde o cônjuge é viúvo e quem perde a sobrinha é o que?
Parece que é um luto que a gente não tem permissão para ter.
A maioria das pessoas não sabem o que dizer quando perdemos alguém.
Quando falam, ainda que bem intencionadas, dizem coisas desagradáveis como:
“”Deus quis assim.
“”Vamo beber pra você esquecer isso.
“Ficar pensando nisso não vai te ajudar em nada.”
As pessoas estão tão despreparadas para lidar com a morte de uma criança, e é um tabu tão grande sequer tocar nesse assunto, que dificilmente você terá algum tipo de conversa produtiva sobre isso.
Cada pessoa tem uma maneira de encarar os fatos mas, para que a dor possa ser amenizada com o passar do tempo, um passo importante é encarar a realidade com resignação, sem fugir dos fatos.
Nesse processo de luto percebi que passei por muitas fases diferentes, senti raiva, alegria, tristeza, esperança, fui religioso, ateu, porra loca, certinho.
Mas em nenhum momento pensei ou fingi que nossa Letícia não existiu, porque mesmo ela não estando mais aqui, as marcas que ela fez em mim são tão reais quanto as marcas que uma sobrinha faz em sua tia ” Tia Lua “.
Hoje escrevo para você. Te amo .
Minha eterna Leticinha.
Hoje o céu está em festa!