O campeonato do mundo de futebol no Catar arranca muitas críticas aumentam a desconfiança do número de mortes.
Ativistas, políticos, adeptos e jornalistas denunciam 6.500 a 15.000 alegadas mortes relacionadas com o evento.
Será?
O debate sobre custo humano do Mundial de Futebol de 2022 e o tratamento dado aos trabalhadores estrangeiros dura há mais de uma década, desde que o Catar ganhou o direito de acolher o evento.
Há várias estimativas sobre quantos trabalhadores morreram nos estaleiros de obras do campeonato no Catar, mas é difícil apurar o número real.
A DW verificou os factos analisando os números publicados pela FIFA, autoridades do Catar, grupos de direitos humanos e os meios de comunicação social, que têm sido constantemente mencionados como verdadeiros, enganadores ou mesmo falsos.
Os autores estão conscientes de que os números transmitem apenas uma vaga noção do sofrimento alegadamente sofrido pelos trabalhadores migrantes no Catar.
Afirmação: “O Mundial de Futebol no Catar custou a vida a 6.500 – até mesmo 15.000 – trabalhadores migrantes.”
Conclusão : A afirmação é falsa.O número amplamente divulgado de 15.021 mortes de trabalhadores migrantes relacionadas com o Mundial no Catar tem origem num relatório da Amnistia Internacional de 2021.
Também amplamente divulgado é o número de 6.500 mortes, publicado pela primeira vez pelo jornal britânico The Guardian, em fevereiro de 2021.
Ambos os números referem-se apenas a cidadãos de fora do Catar, de várias profissões, que morreram no país na última década.
O número de 15.021 mortes citado pela Amnistia Internacional foi obtido a partir de estatísticas oficiais das próprias autoridades do Catar e refere-se ao número de estrangeiros que morreram no país entre 2010 e 2019.
Entre 2011 e 2020, foram 15.799 mortes.
15.000 mortos – mas não só por causa do Mundial de Futebol.
Este dado inclui não só trabalhadores da construção civil pouco qualificados, pessoal de segurança ou jardineiros, que podem ou não ter sido empregados em projetos relacionados com o Mundial de Futebol, mas também professores, médicos, engenheiros e outros empresários estrangeiros.
Muitos vieram de países em desenvolvimento como o Nepal e o Bangladesh, enquanto outros era oriundos de nações de rendimento médio ou alto.
As estatísticas do Catar não permitem uma análise mais detalhada.
A definição oficial da FIFA e do Catar de “mortes relacionadas com o trabalho” refere-se a mortes nos locais de construção dos sete novos estádios, bem como a instalações de treino que o Catar construiu na última década. Os três incluem dois homens nepaleses no Estádio Al Janoub, em Al Wakrah, e um britânico no Estádio Internacional de Khalifa, em Al Rayyan.
Alargando a definição para “mortes não relacionadas com o trabalho” não diretamente ligadas à construção, as autoridades reconhecem mais 37 mortes, incluindo, por exemplo, dois indianos e um egípcio que morreram num acidente de viação enquanto viajavam do trabalho para o seu alojamento, em novembro de 2019.
Em conclusão, os números relativos a mortes relacionadas com o Mundial de Futebol de 2022 variam consoante a definição, incluindo de onde vieram os trabalhadores migrantes, onde e quando morreram, e se as suas mortes podem ser descritas como relacionadas com o trabalho ou não.
No entanto, dadas as inconsistências e deficiências nos próprios dados oficiais do Catar, é impossível chegar a uma conclusão concreta, o que, por sua vez, levanta a questão de saber por que razão exatamente as autoridades do Catar não são capazes de fornecer informações fiáveis.